Em termos de sobrevivência e proliferação, a espécie humana é um sucesso sem precedentes. Nenhuma outra espécie com a mesma proporção de peso e volume se iguala à nossa. Beiramos os oito bilhões (só no tempo gasto para escrever isto nasceram mais alguns milhares) e o nosso habitat natural é a Terra toda, seja qual for o clima ou a vegetação. Como conseguimos controlar a produção do nosso próprio alimento, somos a primeira espécie na História do planeta a poder viver fora do seu ecossistema de nascença. Isso nos permite multiplicar-nos como nenhum outro bicho de tamanho equivalente, e nos deu a mobilidade e a consequente sociabilidade - em nenhuma outra espécie as diferentes categorias se intercasalam como na nossa - que nos salvou do processo de seleção que limitou as outras, dependentes de ecossistemas restritos. Por isso não evoluímos muito, mas também não nos extinguimos.
A técnica também nos salvou das regras implacáveis da seleção natural. Mutações que decretariam o fim de outra espécie em poucas gerações na espécie humana são corrigidas, ou compensadas, pela técnica Exemplo: a visão. O homem urbano tem visão inferior à dos seus ancestrais caçadores e catadores. Como só precisamos de visão suficiente para distinguir as embalagens no supermercado, enxergamos menos do que quem precisava descobrir comida no mato. A oftalmologia se encarregou de corrigir nossa degeneração visual. Graças à técnica, nossa espécie hoje enxerga até no escuro.
Esta é a boa notícia. A má notícia é que chegamos onde estamos consumindo tudo à nossa volta e hoje somos tantos que também nos transformamos em recurso consumível. Estamos, mesmo, a caminhos de estabelecer uma monocultura de carne humana que superará em valor calórico todas as outras fontes de alimento disponíveis sobre a Terra. Em 10 mil anos de ingestão de comida cultivada, mesmo descontando o fato que a maioria só comia para subexistir, fomos ficando cada vez mais nutritivos e apetitosos. Hoje, gente é o principal exemplo de recurso subexplorado do planeta. Seguindo as leis impiedosas da evolução, as comunidades virais e bacteriológicas fatalmente se transformarão para nos incluir, cada vez mais, na sua dieta. Já que estamos aí, aos bilhões, literalmente dando sopa.
Era a minha contribuição para estragar o seu dia, hoje. Obrigado.
Abraços e bom domingo.