23 de março de 2010

Crônicas-comentário

Este é o conteúdo preparado para um seminário sobre Crônicas apresentado para Prof. M.Sc. Edson Roberto Bogas Garcia na disciplina de Língua Portuguesa V - Oficina de Texto e para a turma do 5º período de Comunicação Social - Jornalismo, UNIFEV - Centro Universitário de Votuporanga.

O objetivo do trabalho é apontar as características de um tipo de crônica, sendo que, elas devem ser identificadas dentro de uma crônica do tipo escolhido.

Este fragmento trata da Crônica-Comentário.



Seminário sobre Crônicas


Crônica
Gênero Hibrido entre a literatura e o jornalismo, resultado da visão pessoal, particular, subjetiva do cronista ante um fato qualquer, colhido no noticiário do jornal ou no cotidiano.

Crônica-comentário

A crônica-comentário é um texto cujo foco principal é a interpretação do autor sobre um determinado assunto, num ponto de vista quase jornalístico. Predominam as impressões críticas, com ironia, sarcasmo ou humor.

Exemplo de crônica-comentário:

De como não ler um poema 

Há tempos me perguntaram umas menininhas, numa dessas pesquisas, quantos diminutivos eu empregara no meu livro A Rua dos Cataventos. Espantadíssimo,     disse-lhes que não sabia. Nem tentaria saber, porque poderiam escapar-me alguns na contagem. Que essas estatísticas, aliás, só poderiam ser feitas eficientemente com o auxilio de robôs. Não sei se as menininhas sabiam ao certo o que era um robô. Mas a professora delas, que mandara fazer as perguntas, devia ser um deles.
E mal sabia eu, então, que estava dando um testemunho sobre o estruturalismo o qual só depois vim a conhecer pelos seus produtos em jornais e revistas. Mas continuo achando que um poema (um verdadeiro poema, quero dizer), sendo algo dramaticamente emocional não deveria ser entregue à consideração de robôs, que, como todos sabem, são inumanos. Um robô, quando muito, poderá fazer uma meticulosa autópsia — caso fosse possível autopsiar uma coisa tão viva como é a poesia.
Em todo caso, os estruturalistas não deixam de ter o seu quê de humano.. -
Nas suas pacientes, afanosas, exaustivas furungações, são exatamente como certas crianças que acabam estripando um boneco para ver onde está a musiquinha. 

(Mário Quintana)

Identificação das características da Crônica

  • Fato colhido no cotidiano: Há tempos me perguntaram umas menininhas, numa dessas pesquisas, quantos diminutivos eu empregara no meu livro A Rua dos Cataventos.
Comentário: Em cima da lembrança da pesquisa realizada por menininhas, um fato cotidiano, decorre a crônica.
  • Sarcasmo: Espantadíssimo, disse-lhes que não sabia. Nem tentaria saber, porque poderiam escapar-me alguns na contagem. Que essas estatísticas, aliás, só poderiam ser feitas eficientemente com o auxilio de robôs. Não sei se as menininhas sabiam ao certo o que era um robô. Mas a professora delas, que mandara fazer as perguntas, devia ser um deles.
Comentário: O personagem autor percebe neste momento que tentam invadir a privacidade de seu livro (poema) e responde com desdenho, como se a questão não foi importante. O que poderia deixar as menininhas chateadas.
  • Interpretação do autor sobre o assunto: Mas continuo achando que um poema (um verdadeiro poema, quero dizer), sendo algo dramaticamente emocional não deveria ser entregue à consideração de robôs, que, como todos sabem, são inumanos.
Comentário: A questão levantada pelas menininhas toma rumo sério, o autor apresenta sua visão, sendo ela contra a estrutura robótica, e a favor da emoção humana. O autor “classifica” os estruturalistas como robôs.
  • Ponto de vista quase jornalístico: Um robô, quando muito, poderá fazer uma meticulosa autópsia — caso fosse possível autopsiar uma coisa tão viva como é a poesia.
Em todo caso, os estruturalistas não deixam de ter o seu quê de humano.. -
Nas suas pacientes, afanosas, exaustivas furungações, são exatamente como certas crianças que acabam estripando um boneco para ver onde está a musiquinha.
Comentário: O autor utiliza de um argumento sarcástico, no qual o robô (estruturalista) somente pode analisar a poesia, apontar erros gramáticos ou ortográficos, porém, não da vida.