10 de novembro de 2009

Uma noite estranha


Na praça do velório...

Três jovens conversavam na praça do velório durante a noite, já se aproximava das 10 da noite. Aparentemente tudo estava em seu lugar e como é comum de praça logo apareceu um senhor, vestido como se estivesse em casa, shortinho, camiseta cavada, boné e chinelo de dedo. Esse homem deu boa noite e soltou a primeira frase dessa estranha história.

- Aqui é um lugar estranho, todo dia a luz tá acesa, uma, duas, três!

Sem entender direito os trio olhou para trás, o homem continuou...

- Ta acontecendo muito acidente por ai, todo dia morre alguém. Tem nego que acha que é o bam bam bam e vai embora. Depois que vai não adianta ficar chorando.

Então houve silêncio, pois todos estavam sem palavras, um dos jovens, Pol., retrucou:

- Depois que morreu já era. Bola pra frente, não adianta chorar, tem que viver!

E o homem toma novamente a palavra:

- Quem faz o bem, colhe o bem, quem faz o mal... Eu perdi meu filho, ele tinha 21 anos, não bebia, não fumava, só estudava! Era formado em computação, tenho o diploma até hoje.

O senhor da sinais de emoção, seus olhos parecem encher d’água.

- é mole perder um filho? - Ele pergunta.

- é duro. – Pol novamente.

- Tava trabalhando, limpando, e o cara foi brincar, abriu a válvula do sifão fervendo, pegou nele morreu.

Silêncio...

- Ele mais três, só o Andrezinho vive, queimou tudo os braços, as pernas, ta feio. O Baiano morreu, o meu filho e o cara do álcool. Meu filho ficou vivo dez dias, o Baiano doze, o cara do álcool abriu a porta, explodiu, subiu 8 metros no ar. Morreu na hora.

- Pegou 3 anos de prisão.

- Só? – se revolta Bela, outra juvenil.

- E a usina vai pagar 1 milhão e meio, mas eu não quero esse dinheiro. Você gostaria de receber um dinheiro do seu ente querido, eu só queria meu filho de volta! Estudando engenharia, jogando vôlei, do meu lado.

Até esse ponto foi chocante, porém esse homem começou a pesar, disse que tem outros filhos. A filha caçula pirou, pois o filho que havia morrido era o “xodó”, a enfermeira não consegue mais trabalhar. O outro homem que havia morrido, há dois dias havia chegado de uma viagem a Bahia, pois adotará uma menina recém nascida que a mão não tem condições de criar.

E o Senhor não parava mais com a sequência de detalhes miraculosos, absurdos e até engraçado para o humor negro. Até que, algo mais estranho aconteceu, chegou sem ninguém perceber, uma mulher, vestida com uma blusa de quem está no “role”, calça jeans pouco para baixo do joelho (deve ter um nome específico) e sandália, e o mais louco, sua primeira frase meio que afobada:

- Oi, da licença, onde eu encontro um bar que eu possa comprar cigarro?

O senhor sugeriu a padaria, mas José terceiro jovem e morador do bairro discordou.

- A padaria já fechou, ela fecha cedo, só se ali na avenida tiver aberto.

A guria apressada e perdida alegou não saber onde ficava o tal bar e, ao ser questionada falou que não sabia onde era nada!

O senhor se ofereceu a acompanhar, ela aceitou. Então os dois partiram, sentido a avenida. Os jovens se sentiram aliviados, porém comentaram o fato e o classificaram como bizarro, questionaram a veracidade do que ouviram.

Quando parecia estar tudo bem novamente resolveram partir. Pol teve a brilhante ideia de ver o corpo do sujeito que tivera a infelicidade de falecer neste dia e que estava sendo velado.

O mesmo senhor que conversou com eles estava estirado, pálido, algodão no nariz, vestido a terno, com muitas flores o rodeavam. Um susto, quando chega mais um corpo para ser velado durante a madrugada, a mesma mulher que perguntou sobre o bar.

*Está história é baseada em fatos reais.
*Todos os nomes são fictícios para proteger a imagem dos envolvidos.